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Olá colegas, como a professora Elizabeth nos solicitou estou criando o meu blog educacional. Espero poder colaborar com todos nesta nossa difícil tarefa de aprender Didática do Ensino Superior e, principalmente, encontrar assuntos interessantes e pertinentes para dividir com todos vocês.Comentários, críticas, participações e colaborações serão sempre muito bem acolhidos aqui. Conto com vocês e bons estudos a todos!



sábado, 29 de março de 2008

O desafio de ler e compreender a pedagogia da autonomia de Paulo Freire



Paulo Freire foi um grande educador brasileiro que destacou-se por seu trabalho na área da educação popular, voltada tanto para a escolarização como para a formação da consciência. É considerado um dos pensadores mais notáveis na história da pedagogia mundial, tendo influenciado o movimento chamado pedagogia crítica.
A turma de Didática do Ensino Superior foi convidada a ler a sua última obra publicada em vida: o livro "Pedagogia da Autonomia". È um livro pequeno em tamanho, mas com um conteúdo enorme e riquíssimo, graças ao grande poder de concisão do autor, qualidade esta em que eu falho miseravelmente ao tentar escrever sobre ele, e por este motivo me desculpo antecipadamente aos leitores deste blog.
Esta é uma obra onde Paulo Freire reuniu suas experiências práticas e teóricas, adquiridas ao longo de sua carreira e que foram transformadas em pensamentos que buscam a integração dos participantes no processo de educação e a busca de novos métodos, valorizando a curiosidade dos alunos e a criatividade dos educadores, além de condenar a rigidez do ensino, que deixa à margem do processo de socialização os menos favorecidos. O tema central do livro é auxiliar a formação de professores, numa reflexão sobre a prática educativo-progressista em favor da autonomia dos alunos (pois formar é muito mais do que simplesmente educar). São apresentadas propostas de práticas pedagógicas necessárias à educação como forma de construir a autonomia dos alunos, valorizando e respeitando sua cultura, seus conhecimentos prévios e suas características pessoais. Como base de seus ensinamentos, Freire defende que é mais importante formar o ser humano, inspirá-lo a buscar seus próprios conhecimentos e ensiná-lo a fazer reflexões críticas de sua realidade. Enfatiza ainda alguns aspectos essenciais ao bom educador, tais como: simplicidade, humanismo, bom senso, ética e esperança. Em sua opinião, o fracasso educacional atual deve-se em particular às técnicas de ensino ultrapassadas e sem conexão com o contexto social e econômico do aluno, mantendo-se assim o "status quo", pois a escola ainda é um dos mais importantes aparelhos ideológicos do Estado.

No primeiro capítulo do livro, o autor procura também mostrar que a teoria deve ser coerente com a prática do professor, que passa a ser um modelo e um influenciador de seus alunos: não seria convincente falar para os alunos que o alcoolismo faz mal à saúde e tomar bebidas alcoólicas em profusão. Deve-se ter “raiva” da bebida, pois a emoção é o que move as atitudes dos cidadãos. Várias vezes, o autor fala da “justa raiva” que tem um papel altamente formador na sociedade. Uma "raiva" que protesta contra injustiças, contra a deslealdade, contra a exploração e a violência. Podemos definir esta “justa raiva” como aquele desconforto que sentimos mediante situações como a acima descrita. A prática educativa em si deve ser um testemunho rigoroso de decência e de pureza, já que nela há uma característica fundamentalmente humana: o caráter formador. Para isso, o professor deve se utilizar, da "corporificação das palavras", usando exemplos do dia-a-dia para demonstrar o conteúdo. Destaca a importância de propiciar "condições aos educandos, em suas relações uns com os outros ou com o professor, de treinar a experiência de ser uma pessoa social, que pensa, se comunica, tem sonhos, tem raiva e que ama" (pág 46). Isto despe o educador e permite que se rompa a neutralidade do mesmo e assim acredita que a educação é uma forma de intervenção no mundo, que não é neutra, nem indiferente, mas que pode implicar tanto a ideologia dominante como diferenciá-la. A construção do saber depende da importância que o educador dá à parte social, à comunidade na qual ele trabalha, para conseguir aproximar os contextos a realidade, compondo assim um dialogo aberto com o aluno. Deste modo Freire simplifica: “não há docência sem discência”.



No segundo capítulo, Freire levanta a necessidade dos educadores criarem as possibilidades para a produção ou construção do conhecimento pelos alunos. Insiste que “...ensinar não é transferir conhecimento, mas criar as possibilidades para sua própria produção ou a sua construção”, e que o conhecimento precisa ser vivido e testemunhado pelo agente pedagógico. Esse raciocínio existe "por sermos seres humanos e, como tal, temos consciência que somos inacabados" (pág 52). Assim, é esta consciência, que deve motivar a pesquisar, conhecer e mudar. Dito em poucas palavras por Freire: “o que está condicionado, mas não determinado”. Passamos assim, a ser sujeito e não apenas objeto da nossa história, pois não devemos ver situações como fatalidades e sim estímulo para mudá-las. O educador deve preocupar-se em não inibir ou dificultar a curiosidade dos alunos, muito pelo contrário, deve estimulá-la, para que os mesmos busquem desenvolver cada vez mais seus conhecimentos, em uma atividade prazerosa e preenchedora.



No último capítulo, Freire mostra a necessidade de segurança, do conhecimento e da generosidade do educador para que tenha autoridade, competência e liberdade na condução de suas aulas. Defende a necessidade de se exercer a autoridade com a segurança fundada na competência profissional, junto à generosidade. Ensinar exige comprometimento, sendo necessário que se aproxime cada vez mais os discursos das ações. Sendo professor, é necessário conhecer o que ocorre no espaço escolar e estar ciente de que a sua presença nesse espaço não passa desapercebida pelos alunos. Para Freire, a Pedagogia da Autonomia deve estar centrada em experiências estimuladoras de decisão, de responsabilidade, ou seja, em experiências respeitosas de liberdade. Para isso, ao ensinar, o professor deve ter liberdade e autoridade e como ser político, emotivo, pensante não pode ser imparcial em suas atitudes, deve sempre mostrar o que pensa, apontando diferentes caminhos, evitando conclusões, para que o aluno procure o o caminho em que acredita, com suas explicações, se responsabilizando pelas conseqüências e construindo assim sua autonomia. Deste modo, destaca que somente quem sabe escutar é que aprende a falar com os alunos. Finaliza dizendo que a atividade docente é alegre por natureza, mas com uma formação científica séria. Foi somente a percepção de que somos seres “programados, mas para aprender” e consequentemente para ensinar, conhecer e intervir que faz o autor entender a prática educativa como um exercício constante em favor da autonomia de professores e alunos, não somente transmitindo conhecimentos, mas redescobrindo, construindo e ressignificando estes conhecimentos, além de transcenderem e participarem de suas realidades históricas, pessoais, sociais e existenciais.



A análise da obra de Paulo Freire, nos faz refletir a respeito de suas palavras sérias, mas esperançosas de um futuro onde a relação entre escola, professores e alunos seja mais democrática e participativa, onde o aprendizado se faça de forma natural e instigante. Por outro lado, é difícil deixar de perceber que apesar da obra ter sido escrita em 1996, ela está fortemente ligada ao "espírito" das décadas de 60 e 70. Em vários momentos o autor levanta conceitos relacionados à política e à ideologia que são mais compatíveis com os anos da ditadura militar do que com o período atual (cheio de suas próprias contradições, mas que não comporta mais a noção de engajamento político tão enfatizada no livro.) A busca por um país mais democrático e igualitário passa necessariamente pela oportunização de um ensino de qualidade para todos, mas, em minha opinião, não faz parte do papel do professor levar sua ideologia para dentro da sala de aula (embora seja realmente difícil descartá-la por completo de seu discurso). De qualquer forma, é muito importante este questionamento da estrutura rígida e inflexível que permeia a nosso ensino, com raras e honrosas exceções. E é importante lembrar que a maior parte dos alunos brasileiros sofrem com um problema ainda muito maior do que o tradicionalismo da educação: a baixíssima qualidade do que é ensinado, a precariedade das escolas e o despreparo dos professores.

Resenha escrita com base no livro "a Pedagogia da autonomia" de Paulo Freire

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